Fotografia compartilhada
Levar a público um trabalho é algo imprescindível, fundamental no percurso de qualquer obra. Existe obra sem público? Existe fotografia sem o espectador, o leitor? Mas, este ato de publicar, apesar de incontornável, envolve uma cadeia de decisões, inseguranças, percalços, erros, constrangimentos de todo tipo, além de um emaranhado de estímulos, sonhos, impulsos.
A defesa de uma dissertação ou tese é um marco de passagem. Ali é decretado o fim de uma etapa, de um processo. Passo irreversível – fonte de angústias –, não descarta, porém, o inacabável processo de amadurecimento, não estanca a dinâmica das transformações. Se conclui o mestrado ou doutorado, mas não a discussão. Se na banca de defesa algumas “fichas caíram”, muita coisa continuou reverberando, provocando ondulações na superfície das ideias. Na época, o Dobras Visuais publicou a dissertação e, não raro, encontrei conhecidos e desconhecidos que me comentavam algo, que faziam referência, que acrescentavam uma dúvida.
O livro Coletivos fotográficos contemporâneos busca contemplar esses ecos, atualizando aspectos abordados na pesquisa “original”, trazendo novas análises, tentando amarrar melhor alguns debates. Continuo convencido, como no post de anos atrás, “de que, a despeito de algumas opiniões que o consideram uma jogada de marketing ou um nome distinto para uma prática antiga, o coletivo é sim um modelo novo de agrupamento de fotógrafos. Sua atuação avança sobre questões importantes do fazer fotográfico”.
A conversa passa por alguns fotógrafos cuja atuação já traziam traços de compartilhamento do fotográfico, bem como da análise de outros agrupamentos como fotoclubes e agências fotográficas, de modo comparativo. Alguns pilares conceituais foram construídos a partir do pensamento de Deleuze, Guattari, Barthes, Foucault, Flusser e Agamben, além da observação dos coletivos fotográficos contemporâneos, claro: Cia de Foto, Garapa e Pandora, especialmente.
Os coletivos agem na “inscrição de novas programações no aparelho fotográfico, sua práxis tenta obrigar o aparelho a produzir imagens não programadas. Embora muitas de suas ações sejam conscientes e deliberadas, muitos dos desdobramentos alcançam questões além do inicialmente percebido ou planejado” (p. 191). O comportamento desses grupos esticam o significado do que chamamos de fotografia, desloca os limites desta linguagem. Observá-los nos ajuda a pensar a fotografia em si e a nossa relação com ela.
Para ler:
Coletivos fotográficos contemporâneos (Info sobre o livro)
Curitiba: Appris, 2015.
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Eduardo Queiroga é fotógrafo, professore e pesquisador. Mestre em Comunicação pela PPGCOM-UFPE e doutorando pela mesma instituição. É cofundador do Projeto Fotolibras.